"Assim que diagnosticou o AVC em Dicler Simões, o médico Jair Nogueira disse-lhe que, hoje, problemas cardíacos estão matando mais, em Volta Redonda, que qualquer outra causa. Reação imediata de Dicler, com a voz arrastada pelo AVC: “Isso dá matéria. Vai entrar na pauta“.
Dicler era assim: jornalista 24 horas por dia. Dormia, muitas vezes, com um rádio-comunicador embaixo do travesseiro ligado nas freqüências de emergência, como polícia e bombeiros. Mais ainda: onde a maioria dos jornalistas via um fato corriqueiro, ele enxergava a notícia. Jamais encontrei, em meus quase 30 anos de profissão, um jornalista capaz de descobrir a notícia com tamanha habilidade. Ou que fosse capaz de apurá-la com tanta riqueza de detalhes.
A notícia, muitas vezes, se esconde como um inseto mimetizado na paisagem. Olhar a folhagem e perceber o bicho-folha camuflado é o desafio do jornalista perspicaz. Dicler Simões não só localizava o bicho ao primeiro olhar como descobria o que o bicho fazia ali e como havia chegado até lá. Se ninguém mais estivesse por perto, ainda arrancava uma entrevista exclusiva com o bicho.
Conheci Dicler quando começava minha carreira, aos 18 anos, ele com seus 40. Fazíamos, cada um para um veículo diferente, a cobertura de um crime em Barra do Piraí. O homem parecia um trator. Buscava informações por todos os lados, anotava detalhes como quem fosse escrever um livro. Descobri, ali, o que era ser repórter e o repórter que eu queria ser.
Repórter. Esta era a profissão de Dicler, acima de tudo. Ele sabia produzir e dirigir jornalismo em televisão, fazer edições em rádio, chefiar a reportagem de um jornal – foi o mais completo jornalista da região. Mas gostava mesmo era de ser repórter, de estar nas ruas, de apurar as notícias, de contar uma história. O furo de reportagem era seu objetivo constante. Vibrava, com a verve de um iniciante, pela conquista de uma manchete como se este fato, corriqueiro, fosse excepcionalidade. Era um apaixonado pela notícia.
Trazer Dicler Simões para o DIÁRIO DO VALE (ele esteve conosco desde a fundação do jornal) não foi tarefa fácil. Ele chefiava o jornalismo do Sistema Sul Fluminense de Comunicação. Eu sabia que propostas financeiras em si não bastariam, pois Dicler sempre viveu do entusiasmo jornalístico e da valorização dos laços de amizade. Comecei passando-lhe o entusiasmo: puxei uma pilha de papéis rabiscados à mão e mostrei o rascunho do projeto do DIÁRIO DO VALE. Pedi que me ajudasse a transformar aquele rascunho em um projeto. Passamos a noite na casa dele, tomando uísque, discutindo aquele projeto inédito de criação de um jornal diário da região.
Dicler se entusiasmou, mas o mais difícil foi convencê-lo que deixar o Sistema Sul Fluminense não abalaria a amizade com o dono da rede, Feres Nader. Além de carismático, Feres sabe conquistar amigos. Dicler foi um deles. Os dois trabalharam juntos por 30 anos e Dicler sempre teve um carinho muito grande por Feres. Custei, mas consegui convencê-lo, de que sua saída daquela empresa não significaria o rompimento com o amigo.
Felizmente Dicler veio, então, para o projeto DIÁRIO DO VALE. Deu ao jornal a alma jornalística sem a qual o DIÁRIO DO VALE jamais teria se tornado o que hoje, 15 anos depois, representa para a região como veículo de comunicação. A amizade com Feres continuou, sólida como antes, e conquistou aqui novos amigos, entre os quais tenho a honra de figurar.
Um homem que sabe fazer amigos e que faz a diferença profissionalmente não passa jamais. Fica marcado entre os amigos que recontam suas histórias e eternizado pelas suas realizações. Não importa em quão distante futuro, jamais uma geração poderá falar de jornalismo na região sem lembrar do pioneirismo que representou o nome de Dicler Simões de Souza."
Aurélio Paiva é Diretor-Presidente do DIÁRIO DO VALE
Dicler era assim: jornalista 24 horas por dia. Dormia, muitas vezes, com um rádio-comunicador embaixo do travesseiro ligado nas freqüências de emergência, como polícia e bombeiros. Mais ainda: onde a maioria dos jornalistas via um fato corriqueiro, ele enxergava a notícia. Jamais encontrei, em meus quase 30 anos de profissão, um jornalista capaz de descobrir a notícia com tamanha habilidade. Ou que fosse capaz de apurá-la com tanta riqueza de detalhes.
A notícia, muitas vezes, se esconde como um inseto mimetizado na paisagem. Olhar a folhagem e perceber o bicho-folha camuflado é o desafio do jornalista perspicaz. Dicler Simões não só localizava o bicho ao primeiro olhar como descobria o que o bicho fazia ali e como havia chegado até lá. Se ninguém mais estivesse por perto, ainda arrancava uma entrevista exclusiva com o bicho.
Conheci Dicler quando começava minha carreira, aos 18 anos, ele com seus 40. Fazíamos, cada um para um veículo diferente, a cobertura de um crime em Barra do Piraí. O homem parecia um trator. Buscava informações por todos os lados, anotava detalhes como quem fosse escrever um livro. Descobri, ali, o que era ser repórter e o repórter que eu queria ser.
Repórter. Esta era a profissão de Dicler, acima de tudo. Ele sabia produzir e dirigir jornalismo em televisão, fazer edições em rádio, chefiar a reportagem de um jornal – foi o mais completo jornalista da região. Mas gostava mesmo era de ser repórter, de estar nas ruas, de apurar as notícias, de contar uma história. O furo de reportagem era seu objetivo constante. Vibrava, com a verve de um iniciante, pela conquista de uma manchete como se este fato, corriqueiro, fosse excepcionalidade. Era um apaixonado pela notícia.
Trazer Dicler Simões para o DIÁRIO DO VALE (ele esteve conosco desde a fundação do jornal) não foi tarefa fácil. Ele chefiava o jornalismo do Sistema Sul Fluminense de Comunicação. Eu sabia que propostas financeiras em si não bastariam, pois Dicler sempre viveu do entusiasmo jornalístico e da valorização dos laços de amizade. Comecei passando-lhe o entusiasmo: puxei uma pilha de papéis rabiscados à mão e mostrei o rascunho do projeto do DIÁRIO DO VALE. Pedi que me ajudasse a transformar aquele rascunho em um projeto. Passamos a noite na casa dele, tomando uísque, discutindo aquele projeto inédito de criação de um jornal diário da região.
Dicler se entusiasmou, mas o mais difícil foi convencê-lo que deixar o Sistema Sul Fluminense não abalaria a amizade com o dono da rede, Feres Nader. Além de carismático, Feres sabe conquistar amigos. Dicler foi um deles. Os dois trabalharam juntos por 30 anos e Dicler sempre teve um carinho muito grande por Feres. Custei, mas consegui convencê-lo, de que sua saída daquela empresa não significaria o rompimento com o amigo.
Felizmente Dicler veio, então, para o projeto DIÁRIO DO VALE. Deu ao jornal a alma jornalística sem a qual o DIÁRIO DO VALE jamais teria se tornado o que hoje, 15 anos depois, representa para a região como veículo de comunicação. A amizade com Feres continuou, sólida como antes, e conquistou aqui novos amigos, entre os quais tenho a honra de figurar.
Um homem que sabe fazer amigos e que faz a diferença profissionalmente não passa jamais. Fica marcado entre os amigos que recontam suas histórias e eternizado pelas suas realizações. Não importa em quão distante futuro, jamais uma geração poderá falar de jornalismo na região sem lembrar do pioneirismo que representou o nome de Dicler Simões de Souza."
Aurélio Paiva é Diretor-Presidente do DIÁRIO DO VALE
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